Cantinho da Helô

Tuesday, April 30, 2013

Manual de sobrevivência - (parte 8)


Hoje o mar não está para peixe, para ninguém! Tudo balança, tudo sacode, e nada fica no lugar. Os objetos caem, os móveis correm (se não estão presos, e deveriam), e até as roupas que são leves, caem do varal. Situação tensa e incômoda.

Várias vezes durante as aulas eu fui deslocada de local devido ao "rolling" do barco. O quadro branco veio ao chão, as canetas também. O dvd quase quebrou, mas eu consegui salvá-lo num movimento preciso.

Foram 4 dias assim, e chega uma hora em que tudo que você quer é apertar um botão de emergência (que nem os das esteriras de academia) contando que tudo vai ficar tranquilo. Mas esse botão não existe, então o jeito é se acostumar.

A sorte é que eu não enjôo. Se enjoasse, aí sim, seria punk, heavy metal e rock 'n roll ao mesmo tempo! Se bem que eu sou adepta de um rock 'n roll (mas aí eu me refiro à música). :)

Lembro que no meu primeiro embarque, em meados de 2012, eu enjoei feio no meu terceiro dia a bordo. Vomitei perto da escada e lá fiquei, arriada, sem forças para me erguer. O motorman me achou e me ajudou a levantar e ir lavar meu rosto.

Depois desse dia, nunca mais! Parece que meu corpo acostumou. O corpo sim, a mente, nunca! Minha cabeça está sempre em terra.

**********

Após esses dias de balanço total, o trabalho foi concluído e veio a ótima notícia de que voltaríamos para o porto de Niterói, e ficaríamos, no mínimo, até sábado.

Com isso, lá fui eu (tolinha!!!) me planejar para depois das aulas de quinta sair com um amigo para tomar café, sair na sexta para dançar, e embarcar revigorada no sábado para mais 10 dias. 

Bem, nada disso aconteceu! Quinta, mal o barco atracou, já foi parar no meio da Baía de Guanabara esperando por ordens da empresa, ou seja, adeus meu café. Na sexta de manhã, a mais devastadora das notícias: iríamos sair as 22h do mesmo dia. Adeus Bar Bukowisk, adeus amigos, até a próxima.

Quando o barco cruzou a baía, vim para a prova e observei com tristeza a cidade. Passamos em frente à enseada de Botafogo, e se eu pudesse tinha ido a nado até lá. Alguém, por favor, inventa o teletransporte?

**********


Sunday, April 21, 2013

Manual de Sobrevivência (parte 7)


Relatos de 14, 17 e 19 de abril de 2013.

Hoje o mar não está para peixe, para ninguém! Tudo balança, tudo sacode, e nada fica no lugar. Os objetos caem, os móveis correm (se não estão presos, e deveriam), e até as roupas que são leves, caem do varal. Situação tensa e incômoda.

Várias vezes durante as aulas eu fui deslocada de local devido ao "rolling" do barco. O quadro branco veio ao chão, as canetas também. O dvd quase quebrou, mas eu consegui salvá-lo num movimento preciso.

Foram 4 dias assim, e chega uma hora em que tudo que você quer é apertar um botão de emergência (que nem os das esteriras de academia) contando que tudo vai ficar tranquilo. Mas esse botão não existe, então o jeito é se acostumar.

A sorte é que eu não enjôo. Se enjoasse, aí sim, seria punk, heavy metal e rock 'n roll ao mesmo tempo! Se bem que eu sou adepta de um rock 'n roll (mas aí eu me refiro à música). :)

Lembro que no meu primeiro embarque, em meados de 2012, eu enjoei feio no meu terceiro dia a bordo. Vomitei perto da escada e lá fiquei, arriada, sem forças para me erguer. O motorman me achou e me ajudou a levantar e ir lavar meu rosto.

Depois desse dia, nunca mais! Parece que meu corpo acostumou. O corpo sim, a mente, nunca! Minha cabeça está sempre em terra.

**********

Após esses dias de balanço total, o trabalho foi concluído e veio a ótima notícia de que voltaríamos para o porto de Niterói, e ficaríamos, no mínimo, até sábado.

Com isso, lá fui eu (tolinha!!!) me planejar para depois das aulas de quinta sair com um amigo para tomar café, sair na sexta para dançar, e embarcar revigorada no sábado para mais 10 dias. 

Bem, nada disso aconteceu! Quinta, mal o barco atracou, já foi parar no meio da Baía de Guanabara esperando por ordens da empresa, ou seja, adeus meu café. Na sexta de manhã, a mais devastadora das notícias: iríamos sair as 22h do mesmo dia. Adeus Bar Bukowisk, adeus amigos, até a próxima.

Quando o barco cruzou a baía, vim para a prova e observei com tristeza a cidade. Passamos em frente à enseada de Botafogo, e se eu pudesse tinha ido a nado até lá. Alguém, por favor, inventa o teletransporte?

**********


Sunday, April 14, 2013

Manual de Sobrevivência (parte 6)


Relato de 07 e 08 de abril de 2013:

Tentei ver um filme e não pude. Lei da selva: se a maioria é homem, a tv VAI passar futebol no domingo. Não importa que eles tenham tv no camarote e você não. Eles querem ver juntos e na tv da sala de aula, que é a maior. Você que se vire! Eu sou visita aqui, para ser diplomática, eu cedo, e que se exploda minha diversão de domingo em nome da maioria.

**********

Quando eu quero escrever, procuro um lugar ao ar livre, como o deck da proa, o deck da academia ou o lado externo do passadiço. Pouca gente vai a esses lugares e eu posso colocar meus pensamentos no papel sem interrupções. Hoje o mar está calmo, o sol está quase se pondo e não estamos operando com a plataforma no momento. Me sinto triste porque é domingo e eu realmente queria ver aquele filme. Se pudesse estar em terra com certeza estaria na praia, ou andando de bicicleta, ou conversando com amigas, ou beijando na boca. O que seja! Mas, aqui, as opções são poucas. E, acredite, tudo que podia fazer para me distrair aqui eu já fiz. Já li, já escutei música, já fiz ginástica, já cantei, escrevi, entrei no facebook. O filme era para dar variedade à minha tarde e o tempo passar mais rápido. Enfim, não adianta chorar pelo leite derramado (não mesmo!). Se eu quiser ver filmes aqui aos domingo, só de manhã, mas essa hora estou dormindo, já que é minha folga. Palavra de ordem: ADAPTE-SE A ISSO!

**********

Coisas que sinto falta:
  • Beijo
  • Abraço
  • Bicicleta
  • Patins
  • Prancha de surf
  • Sushi
  • Amigas
  • Shopping
  • Grama
  • Carinho
  • Árvores
  • Montanhas a perder de vista
  • Mãe
  • Colo
  • Salto Alto
  • Mini-saia
  • Barzinho
  • Vinho
  • Cerveja
  • Caminhar sem destino

Sunday, April 07, 2013

Manual de Sobrevivência (parte 5)


Relato de 7 de abril de 2013:

Novo embarque, novos desafios! Embarque passado eu tinha 5 turmas, neste tenho 7. Acordo as 8h, tomo café, sigo para a academia (para o dia começar com a corda toda!), as 10h tenho a primeira turma, e o dia segue da seguinte maneira: 11h30 - almoço, 13h - aula, 14h aula, 15h30 - aula, 17h30 - jantar, 18h30 - aula, 20h - aula, e 21h - aula.

Com o dia cheio, as vezes chego no quarto, tomo uma ducha e vou dormir. Algumas ocasiões eu consigo ler - adquiri recentemente a biografia do fantástico Freddie Mercury - outras, durmo com o libro aberto sobre o peito. Realmente muito mais fácil dormir aqui no barco que em terra.

Ontem o contra-mestre encontrou uma ave marinha no deck da popa. Trouxe para mim e eu tentei cuidá-la. Batizei a ave de Picolino. Coloquei numa caixa com água - ave marinha precisa de água - e frutas, por falta de peixe no barco. Irônico, não? Tanta água ao redor e nenhum peixe para comer a bordo. Só semana que vem, quando buscarmos o rancho em Niterói.

Entre uma aula e outra, ia ver se Picolino estava bem. Por volta das 18h30, a ave estava bem disposta e pronta para seguir seu rumo. Levei-a ao deck e de lá ela seguiu para onde suas asas puderem levar!

********** 

Wednesday, April 03, 2013

Manual de Sobrevivência de uma Maruja Ocasional (parte 4)

Relato de 20 de fevereiro de 2013.


Eu melhorei! Desconheço o que me deixou doente, mas as vezes foi até uma questão psicológica (isolamento, saudade, cansaço). O confinamento pode causar isso. Sei perfeitamente que essa vida profissional não combina com minha vida pessoal e social. Eu sou muito livre! Gosto de caminhar ao invés de usar algum meio de transporte. Bicicleta e moto ainda curto, porque me permitem a sensação de ventinho  no rosto, de portas abertas para o mundo.

Mas, se por ventura tenho que ficar 28 dias dentro de um navio, que eu faça desses 28 dias o mais aprazível possível. Sorte que no navio tem academia. Não estou nem perto de ser uma "marombeira", mas que aqui é terapêutico, isso é mesmo! É só colocar uma música - eu tenho preferência por rock, jazz e blues - e fazer dessa hora a minha hora de lazer.

Como vou num horário que meus alunos não frequentam, fico livre para cantar, e muitas vezes sair dançando pelo container-academia, por que não?

Se tem duas coisas que amo fazer, e as faço prazerosamente, são dançar e escrever. Queria ser paga para dançar. Esse seria meu emprego de sonho!

**********

Um dos momentos que eu considero "top" a bordo é o por-do-sol. Como agora, enquanto escrevo. É sempre lindo, profundo, algumas vezes laranja, outros rosado, sempre inesquecível!

É um momento que guardo para respirar fundo e me entregar somente à contemplação. Tudo mais fica para depois. É a hora em que eu acredito que a vida pode ser completa, que a beleza existe, que tudo é possível, e mais uma série de pensamentos que faz o ser humano mais resiliente.

E olha que eu não tenho nada de 'poliana' não. Sei que quando tem que dar errado dá mesmo. Mas é bom você sentir que, pelo menos numa hora do dia você pode respirar tranquilo e sonhar, e acreditar que pode. Porque no fundo a gente pode mesmo! Nem sempre do jeito que planejou, mas de algum jeito.

**********

O barco segue lentamente. Não sei quantas vezes exatamente, nessa viagem, quantas vezes eu fui do sul ao sudeste, e vice-versa.

Uma coisa que não se deve fazer a bordo: pensar em tempo!

Assim que você embarca, a melhor saída é esquecer o calendário. É claro vai ter o dia da pizza, o dia do churrasco, e aí você terá certeza que chegou o fim-de-semana. Mas, tirando isso, todo dia é segunda-feira, do dia que você entra até o dia que você sai. Em compensação, quando se está de folga, todo dia é sábado e domingo. É uma questão de compensação.

**********

Manual de Sobrevivência de uma Maruja Ocasional (parte 3)

Relato de 11 e 12 de fevereiro de 2013:


Nos dias que se seguiram transferimos muitas cargas do navio para uma plataforma americana. Eu fotografei e filmei a operação com meu celular. Não é toda empresa que permite, mas esta é tranquila. Coloquei na minha rede social e meus amigos gostaram.

É que eles não viram o que eu vi. Ao vivo é tudo muito mais fantástico! Talvez porque eu não tenha planejado este estilo de vida, todo dia reserva uma surpresa incrível.

Hoje eu vi um entardecer que era coisa de cinema! O sol descia laranja no horizonte, mas acima da minha cabeça gotejava suave. Quando me virei, tinha um enorme arco-íris por cima da plataforma e do barco. Obviamente soltei uma exclamação de surpresa e fascínio. Um fenômeno da natureza tão simples que pode tornar seu final de tarde mágico!

No meu embarque anterior, foi a vida marinha que me surpreendeu. Vi muitas baleias, golfinhos, arraias, tubarões, cardumes de dourados. Nesse embarque, até agora, só vi águas-vivas. Mas ainda tenho 23 dias pela frente.

**********

De domingo para segunda fui acometida por uma febre repentina, que chegou acompanhada de um tremor tão forte que fez meus dentes rangerem. O frio se tornou insuportável, assim como as dores por todo o corpo. Como não tenho telefone na minha cabine, fui obrigada a buscar ajuda. Não tive como trocar o pijama, apenas coloquei o casaco e desci.

Encontrei a 3ª engenheira no 'messroom' e ela me ajudou a tomar o remédio, porque eu tremia a ponto de não conseguir despejar o conteúdo no copo d'água.

Ela foi chamar o imediato, que é quem fica com a chave da enfermaria. Precisavam tirar minha temperatura. Estava alta, beirando os 39º. Era a única coisa que podiam fazer por mim. Me dar água, medir a temperatura e me mandar para o repouso. Senão, teria que subir para a plataforma e ver o médico.

Mas, assim como chegou, a febre se foi. Não precisei ir ao médico, embora meu joelho ainda doa, estou bem novamente. Que continue assim!

**********