Cantinho da Helô

Saturday, October 30, 2004

O Canto

A jovem canta. Mas está triste.
Há tempos está assim. Sem motivação, sem mistério.
Canta, porque é a única força que tem! Seu canto é natural, é profundo, vem da alma sem esforço. Ela nasceu pra cantar! Mas ela não sabe. Não sabe ao que veio, pra quê veio. Não tem idéia de sua força.
Todo dia lamenta, sente uma dor profunda. Tão profunda que dói. Então ela canta. Seu canto é um aviso, é um gemido cadenciado, melódico e afinado. Mas ainda gemido, ainda dor.
Se ela soubesse a força que tem, transformaria seu canto-gemido em canto-amor. Deixaria de cantar apenas para si, e envolveria a todos com seu calor.
Mas ela não sabe. Ou não quer saber. E apenas canta, sem saber nem o porquê.

Casa Vazia

Presa aqui estou, todo dia, na casa fechada. Na casa aberta, mas fechada. Fechada pra mim. Se quisesse, porta afora sairia. Se quisesse, solidão não sentiria.
Mas, presa aqui estou todo dia. A varanda pra rua, os sons da rua, o dia na rua, a noite da rua.
Esses sons não são meus, não me pertencem, embora eu, a eles pertença. Os sons me incomodam, pois meus ouvidos só querem o silêncio. A varanda pra rua, a rua pra mim.
Se saísse porta afora, num novo mundo estaria. Quero sair. Não quero sair. Tenho medo!
Medo?
Sim, medo.
Por que só ouço os sons, e eles me assustam. Aguçam meus sentidos e me anestesiam. Quero sair. Não quero sair.
Presa aqui estou todo dia, na casa fechada, na casa vazia.
Não teria a casa móveis? Não teria eu companhia?
Sim, digo. Eu os tenho, mas tal parceria e preenchimento não me cabe, não me contém. Só me contém o vazio, e mais ninguém.

Friday, October 29, 2004

teste

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