Cantinho da Helô

Tuesday, September 01, 2009

Amada


Leonor queria se livrar do vício de sofrer. Vida dura essa de ter um nome que rimava tanto com dor. Já pequena sentia os augúrios de ser sempre a última a ser escolhida nas brincadeiras, e ter os meninos implicando com suas sardas e puxando suas tranças.

Um dia cresceu, se apaixonou, e não foi correspondida. O menino era bonito, um dos mais bonitos do colegial, o que ele ia fazer com a menina certinha da oitava série, que vivia para os livros e aulas de piano?

Depois dele, muitos outros vieram, mas por ironia, amava quem não a amava, rechaçava quem lhe dava atenção. Amor, assim como Leonor, também combina com dor.

Entrou para a faculdade, se esforçou nos estudos, conseguiu emprego. Nenhum que gostasse tanto. Era frustrada, queria ter sido bailarina, mas os pais tanto insistiram que ela fez direito. Amargou desemprego, fez concurso público, e depois de cinco tentativas passou. Nada que ela gostasse de fazer, mas pelo menos pagava razoável, e dava para subsistir.

Já há muito não sonhava. Os sonhos ficaram no passado, e sonhador, assim como Leonor, também rima com dor.

Um dia fez uma viagem de férias. Entre uma noite e outra de muita tequila, conheceu Manfred, um jovem alemão de 18 anos, que a puxou pela mão e a levou para as pedras. Ela tinha 28, mas pensou, porque não?

Férias findadas, ciclo atrasado, Leonor se viu grávida. Nessa altura da vida, porque não? E mesmo sem nunca mais poder falar com o pai que perdera contato, resolveu assumir a maternidade. Nesse momento uma luzinha se acendeu em seu coração, e ela se aqueceu por inteiro.

Sentia que já tinha uma razão, que já tinha um motivo para voltar a sonhar e ser feliz. Teria uma filha, e decidiu que se chamaria Amada, pois de dor, essa não sentiria nada.

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