Amada
Leonor queria se livrar do vício de sofrer. Vida dura essa de ter um nome que rimava tanto com dor. Já pequena sentia os augúrios de ser sempre a última a ser escolhida nas brincadeiras, e ter os meninos implicando com suas sardas e puxando suas tranças.
Um dia cresceu, se apaixonou, e não foi correspondida. O menino era bonito, um dos mais bonitos do colegial, o que ele ia fazer com a menina certinha da oitava série, que vivia para os livros e aulas de piano?
Depois dele, muitos outros vieram, mas por ironia, amava quem não a amava, rechaçava quem lhe dava atenção. Amor, assim como Leonor, também combina com dor.
Entrou para a faculdade, se esforçou nos estudos, conseguiu emprego. Nenhum que gostasse tanto. Era frustrada, queria ter sido bailarina, mas os pais tanto insistiram que ela fez direito. Amargou desemprego, fez concurso público, e depois de cinco tentativas passou. Nada que ela gostasse de fazer, mas pelo menos pagava razoável, e dava para subsistir.
Já há muito não sonhava. Os sonhos ficaram no passado, e sonhador, assim como Leonor, também rima com dor.
Um dia fez uma viagem de férias. Entre uma noite e outra de muita tequila, conheceu Manfred, um jovem alemão de 18 anos, que a puxou pela mão e a levou para as pedras. Ela tinha 28, mas pensou, porque não?
Férias findadas, ciclo atrasado, Leonor se viu grávida. Nessa altura da vida, porque não? E mesmo sem nunca mais poder falar com o pai que perdera contato, resolveu assumir a maternidade. Nesse momento uma luzinha se acendeu em seu coração, e ela se aqueceu por inteiro.
Sentia que já tinha uma razão, que já tinha um motivo para voltar a sonhar e ser feliz. Teria uma filha, e decidiu que se chamaria Amada, pois de dor, essa não sentiria nada.
1 Comments:
At September 8, 2009 at 4:32 PM, Pupuca said…
Ei, nada mal estes seus contos! O tamanho é ótimo para publicar no blog! Mas a tristeza deles me deixou triste...
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