A mulher vazia
Pouco se sabe o que se passava com Marisa por aqueles dias.
Andava absorta, perdida, entre nuvens. Olhar vago pela janela do trabalho mirando a pedra da gávea. Não tinha mais energia, fome, nem vontade de fazer nada.
Era rápida em tudo que fazia, porém, executava sem ânimo. Algo naquela mulher morreu e nem ela sabia bem o que era.
“Tenho estado tão cansada”, dizia.
Muitos achavam que era depressão, outros que ele enlouqueceu. O fato é que permanecia minutos a fio catatônica, a mirar pela janela.
Uma de suas amigas de trabalho, Luisa, um dia resolveu lhe falar: “olha, acho que vc devia procurar ajuda, conheço um analista ótimo”.
Marisa aceitou agradecida, mas não o fez. Não procurou o analista. Estava se sentindo bem, apenas cansada.
Ela já aceitava a sua situação. Eram seus momentos. Estava numa fase muito pensativa. Tinha 33 anos, não tivera filhos, seu casamento naufragou. Ainda era bonita, até parecia bem mais nova do que realmente era, mas sentia por dentro a gastura de uma anciã.
Nada mais a deixava feliz. Nem ir ao cinema, nem ao teatro, nem comer chocolate, nem passear com suas amigas, nem viajar com algum novo amor.
Se pudesse, abandonaria tudo, e ficaria em casa, definhando no escuro, vendo TV. Mas, não podia deixar o trabalho, porque era sua única fonte de renda.
Não tinha família para ajudar, nem nenhum amante rico. Bastava-se sozinha, mas nada lhe bastava.
Todo dia levantava, e empurrava com a barriga o dia-a-dia. Fazia yôga, mas não a aprazia. Fazia um MBA, mas para quê não sabia.
Já se acreditava oca. Estava vazia!
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